3/30/2006

INERTE


Uma timidez que reluz, uma sofreguidão,
Uma filha-da-putisse,consigo mesma e, sei lá mas o quê...
Aquela aparição, tão rápida, daquela forma?
Deveria ter avisado. Que ousadia sucumbiu-lhe para chegar assim ???
Repentinamente!
Empalideci.
Passou diante de min feito um tiro, um relâmpago
Um desastre da natureza, como tantos já vistos.
E eu Inerte...
Numa inércia que maltrata, quem tanto espera
E no entanto passou!
Num relâmpago de memória, posso velo passar diante min,
Por mil vezes e mil vezes mais...
E eu Inerte...
Quase louca, dura, suando frio e escolhendo as melhores palavras...
Veio.
Com um andar certeiro, passo ante passo, seu terno de risca de giz,
Cuja perfeição e assentamento naquele corpo esguio,
Fazia inveja a todos, óculos redondamente reluzentes,
Palidez e olhar meigo compunham
Sua característica principal.
Repentinamente.
Sinto um movimento descompassado, brusco até,
Que me envolve, deixando uma atmosfera de êxtase no ar.
Parou.
Me fitou com a velocidade de um trovão,
Estraçalhando todo lugar que toca,
Com olhar sereno questionou-me
_Por favor, que horas são?
Olhei para o relógio.
Momento este que como o cortar duma adaga
Distancia o tempo real do imaginário.
E o tempo parou, e perdurará pela minha existência.
Desta vez, com um fio minúsculo de voz, meio que trêmula, respondi:
_20:00 horas.
Ele agradeceu.
E eu Inerte...
Dei um sorriso suave...
Ele compactuou e se foi.
Sentei-me abobalhada por uns segundos...
Agora, tinha certeza de duas grandezas físicas
A Eternidade e a Inércia.

Valdete Pereira

Nenhum comentário: