3/31/2006

SANTO EXPEDITO APROVA BOLÃO





Mediante aclamação popular

Santo EXPEDITO...

Não sabe o que faz,

Se recebe o currículo,

Se ajuda a pagar as contas,

Se dá leite pra criancinha,

Se da saúde pra vizinha,

Se arranja marido pra assanhadinha....

_ Assanhadinha, uma virgula! Aquela é uma...

Sei lá meu DEUS!!!

Sou santo Milagreiro é certo!

Mas com esse pardieiro...

É até uma heresia, não satisfaço ninguém!

Haja vintém, réis ou cruzeiro,

cruzado, REAL...

Como arranjar tanto dinheiro

Pra bancar tanta lambança?

É fazer compras todo mundo sabe,

Mas fazer as contas.....

Pra pagar somos nós,

EU e o santo TADEU!!!

Mas meu peito esbraveja

_ Ninguém tem culpa de tanto desemprego,

desamparo,desgraça, desgosto, desatinação,

desvario e, desgoverno.

Como saber o que é URGENTE???

Só apelando pro sorteio...

_ Vamos fazer um BOLÃO!


Valdete Pereira

A Arcada









Certa vez, entrei numa fila enorme

Todo mundo contando novidades

Criança pra cá, criança pra lá

Um vai-vem desenfreado

“É o dia do Dentista”

Bochecho preventivo

Ensino de escovação

Haja coração!

Mas que problemas tinha eu?

Tinha de ter algum, todo mundo tem o seu!

Tratei de empurrar a mandíbula

Pra cá e pra lá, até dar conta de

Uma deformidade...

Chegou á minha hora!

Tão esperada ”vez”.

Daí o dentista me olhou

Me pediu um sorriso.....

Aí eu dei...

Aquele...Torto,

Ensaiado ás duras penas...

Senti um leve problema!?

Uma certa interrogação no rosto do dentista...

Ele olhou...., olhou....., pensou.......e disse:

_ Que tal endireitar a Arcada???

Com os meus botões eu pensei....

Preciso ensaiar mais da próxima vez!



Valdete Pereira

3/30/2006

Zé Ditinho Silva

José Benedito de Silva, vulgo “Zé Ditinho” não quer ser mais negro. Cansado de ser chamado de: “Oh! Macaco”, Preto, Nego, O de Nariz Batata, Sem vergonha, Pretinho, Quando a noite cai, Escurinho, Mulato, Moreno, Moreno Jambo,Moreno Queimado, Jabuticaba Madura, Tiziu, Fume, Carvãozinho, Tição....____Tenho Nome. O que??? Tinha nome, e aquilo que estavam fazendo consigo era uma

Patuscada, um despropósito, um desrespeito, ou qualquer um dês desses....Vai se fudê! Era isso que dizia quando a batata assava, quando o trem saia dos trilhos, quando perdia o controle, a cabeça e os parâmetros, quando se sentia um lixo,quando as coisas não iam bem, o “porquê” era muita humilhação e não dizia a ninguém!!!



Quando a merda era jogada ao ventilador! Com tripla personalidade, na hora do deixa disso, duas delas, o Zé e o Ditinho, assumiam o comando. Oque, “o queeeê” !!!. No pensamento,ambos os dois diziam: Brigar não resolveria seu problema, só o levariam para onde o sol nasce quadrado, e lá os Meganhas é que mandam. Policial não é negro! E o Chico Doce, mas conhecido como pau que amansa doido, comia solto.



Racismo!!! Que nada! Em casa de ferreiro o espeto é de pau! Ali, imperava a Lei dos Mais Fortes, mas o alívio vinha quando a terceira personalidade se punha á olhos vistos o “Silva” que só pensava que pra tudo tinha “Um dia a caça e outro o caçador” . Dinheiro, pra quê? Se país de cegos quem tem um olho é rei! Stratus é a solução! Sim Stratus, o sujeito tem ser bem apessoado, tem usar um pano ás pampa, e se num tem sardo bancário, num tem emprego ficho, tem de ter conta bancária pra mostrar que está vivo!!!. Mas quando um desaforo pelo gogó ficava entalado o “Silva” entrava em ação....Sai de Baixo! Mandava tudo á merda! Ás favas! Ia á banca rota!



Naquele dia, deu sorte ao azar, num role pela cidade, todo na estica, o Silva sai com uns amigos, no fino do fino, quando foram enquadrados pelos Meganhas. _ Mãos pra parede, ”Geral”! Tava todo mundo parafinado e documentado, mas pros homem, negro junto é função,treta, malandragem,fuzuê, armação,barraco, formação de quadrilha...Não deu nada, naquele grupo todo mundo é pobre mas limpinho!Resignados, todos foram ao baile, amaciados e putos da vida , de cabeça cheia, chamando urubu de meu loiro, inclusive as três personalidades, Zé, Ditinho e Silva, que teve que engolir a seco o desaforo!



Agora! Ditinho, que sem instrução, sem teto, sem trabalho, sem afeto e muita vergonha, jurou ir á forra! Iria sê “Douto”. Já fazia um compensado de um cursinho supletivo, sabia que não nascera burro!!! E não se sentia assim, desfavorecido, descamisado,desrespeitado, isso sim ele era!!! Daqui pra frente, tudo vai ser diferente!!!!Agora iria lutar de igual pra igual! Teve vida de cachorro magro, trabalhou de sol a sol, teve labuta diária diversa,catador de papel, promovido a “orelha seca”, mas conhecido como servente de pedreiro. Na Escola da Vida, foi promovido a Pedreiro, Pedreiro Azulejista, Mestre de Obras e Engenheiro, quando pegou o canudo! Por cima da carne seca! Vencendo perdeu, vínculos, os chegados, camaradas, os amigos de balada, amigos de peito, os manos de fé! Mas não tinha de ser assim. Pra muitos, crioulo vai ser sempre servo! Letrado, O Zé, Ditinho e o Silva, Sentiam-se importantes!!! Os três decidiram voltar e fazer a diferença, era à hora da virada...



José Benedito de Silva, parou num ponto de táxi, de terno e gravata, aprumadíssimo e em alto e bom som, orgulhoso e pediu: Toca pra Vila Tamoios. O taxista: _Hein????. Refugou,refugiou-se, deu ré no quibe, borrou as calcas e disse pra que todos ouvissem:___Oh amigo, não dá! Maloca, tô fora!!! Tem bairro que a gente não vai nem buscar a mãe!!!! Agora, letrado, José Benedito de Silva, insiste, mora lá e não tem perigo, era de casa, do bem, sangue bom, o bom malando e Doutor!!! O taxista achando que era treta, chutou o balde, pôs o pé na merda e atolou-se até o pescoço.___ : “Oh! Macaco”, não pensa que porque usa pasta e terno bom e gravata é gente! Não vou te levar á porra nenhuma!



Enrubescido, embasbacado, estupefato, boquiaberto mesmo! Zé e Ditinho não esperavam este desaforo, descaso,desmazelo,desfeito! Desta feita “O Silva”, tomou as rédeas da situação, juntou-se aos dois. Disseram numa só voz:__Então toca pra Delegacia!



Valdete Pereira

PSICOSE 2.0

De rabo de olho

Vejo um vulto

Lépido,

Se fazendo oculto



Se olho de frente,

Some derrepente

Se olho de banda

Some de quimbanda



Rapidamente...

Me escondo num canto

Pra ver se ele espanto

_Ahaaaaaaaaaaa!



A sombra dos muros

Ele se esconde também...

Não sai de meu encalço!

_Ta procurando o que???



Quem procura, acha

Olho ao redor e...

Não vejo ninguém!



.......................Ufa!



Valdete Pereira

BODAS DE OURO

Cinqüenta anos de casados e nunca se sucedeu o que Dona Maria vê agora nos seus últimos vinte e cinco anos... Desconfiada de Seu Jorge, que vive olhando o horizonte pensativo, com meio sorriso no rosto, não sai mais pra pescar com os amigos, parou de assistir a novela das 20:00 hs e, pasmem, se diverte pra valer dando uma lida no jornal.

Solta até gargalhadas no ar lendo o Diário de Notícias. (Dona Maria fala sozinha a olhar pelo vitrô) _Tem boi na linha! Não é possível que o véio deu prá virar sem vergonha com uma idade dessas. Não cabe a um senhor de respeito ficar com os dentes a mostras na rua... .E continua: _ Vem ler esse Jornal dentro de casa, Jorge! O que os vizinhos vão pensar? Seu Jorge, macaco velho, já nem liga mais, continua sorridente, adentra a casa, sabedor do ciúme da mulher.Dona Maria fecha a cara. Seu Jorge não deixa que ela fique bisbilhotando sua intimidade e tenta esconder o jornal. (Dona Maria)_ O que fez com que você mudasse tanto Jorge? Sempre foi um homem severo, rígido até com os filho, correto na vida do lar e, agora anda por aí todo sorridente?!?

(Seu Jorge) _ Deixa de ciúme mulher, alegria não tem porteira não! Cansei! Maria, eu até me lembro da última vez que a gente combinou voto e...

(Maria)_Combinou nada! Você nem me deixava escolher, eu sempre tinha que votar

naquele candidato que você achava que era o melhor pra gente, dizia que eu não entendia nada de política e eu acabava ...(Seu Jorge) _ Votando escondido!?!Hein? Há quantos anos já não faço mais isso! (Dna Maria)_ Faz tempo! Mas o que fez você mudar tanto! (Seu Jorge) _Nada não, Maria!(já explica o ocorrido para não dormir na sala)_ É impossível não rir com o que está escrita no jornal, mulher! Antigamente a gente vivia no interior e a campanha política era é feita na base do toma lá da cá. Em troca de votos recebia-se transporte até a urna, conseguia-se internar um filho doente, e

quem sabe trabalho na fazenda de um desses coronéis pros morto de fome e, tudo era às claras. Agora com esses tempos modernos, tanto faz estar Capital ou Interior. Tem político de todo jeito, tudo farinha do mesmo saco e, dinheiro escorrendo pelo ladrão. E a gente ainda anda pagando imposto, pra que? Que novela que nada! Eu quero é mais!

Muda o semblante de seu Jorge, que agora é triste, quase um choro mudo. (vai jururu pro sofá)

(Dna Maria, nervosa) _ Arah! Cinqüenta anos de casados e só agora eu perco meu marido para essa sirigaita da política!

(Seu Jorge, sorridente)_ Maria, vem ver o que eles aprontaram dessa vez!

(Dona Maria ,toda serelepe) _É Jorge, novela pra que?




Valdete Pereira

INERTE


Uma timidez que reluz, uma sofreguidão,
Uma filha-da-putisse,consigo mesma e, sei lá mas o quê...
Aquela aparição, tão rápida, daquela forma?
Deveria ter avisado. Que ousadia sucumbiu-lhe para chegar assim ???
Repentinamente!
Empalideci.
Passou diante de min feito um tiro, um relâmpago
Um desastre da natureza, como tantos já vistos.
E eu Inerte...
Numa inércia que maltrata, quem tanto espera
E no entanto passou!
Num relâmpago de memória, posso velo passar diante min,
Por mil vezes e mil vezes mais...
E eu Inerte...
Quase louca, dura, suando frio e escolhendo as melhores palavras...
Veio.
Com um andar certeiro, passo ante passo, seu terno de risca de giz,
Cuja perfeição e assentamento naquele corpo esguio,
Fazia inveja a todos, óculos redondamente reluzentes,
Palidez e olhar meigo compunham
Sua característica principal.
Repentinamente.
Sinto um movimento descompassado, brusco até,
Que me envolve, deixando uma atmosfera de êxtase no ar.
Parou.
Me fitou com a velocidade de um trovão,
Estraçalhando todo lugar que toca,
Com olhar sereno questionou-me
_Por favor, que horas são?
Olhei para o relógio.
Momento este que como o cortar duma adaga
Distancia o tempo real do imaginário.
E o tempo parou, e perdurará pela minha existência.
Desta vez, com um fio minúsculo de voz, meio que trêmula, respondi:
_20:00 horas.
Ele agradeceu.
E eu Inerte...
Dei um sorriso suave...
Ele compactuou e se foi.
Sentei-me abobalhada por uns segundos...
Agora, tinha certeza de duas grandezas físicas
A Eternidade e a Inércia.

Valdete Pereira